domingo, 30 de outubro de 2011

SUGESTÃO DE FILME II - MEIA NOITE EM PARIS

Este novo filme do Woody Allen me surpreendeu, positivamente. Gostei muito também da atriz Marion Cotillard, esbanjando charme e sedução, além de ser bonita. Reproduzo abaixo texto da crítica.

Nota Cineclick - Heitor Augusto
É isso, Woddy Allen! Quando alguém que respeita seu trabalho aponta comodismo na realização de Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos é porque sabemos que tipo de emoção e encenação ele pode entregar aos espectadores. Desta vez, em Meia Noite em Paris, Allen deixa de realizar apenas um filme médio para apresentar uma grande obra.

Êxtase é o adjetivo perfeito para definir o durante e o depois da sessão. Com sofisticação, charme e sem amarras quanto ao realismo, esta comédia desenrola um interessantíssimo comentário sobre a relação com o passado e o deslocamento com o presente, passando por uma descarada homenagem a feras da música e literatura, com destaque para o genial Cole Porter. Para encerrar, um olhar muito particular sobre a capital francesa, a qual já vimos centenas de vezes em centenas de filmes. Acredite: a Paris deste filme de Woody Allen é diferente.

Já na sequência inicial, composta de flashes de alguns segundos de pontos turísticos da cidade, como o Arco do Triunfo, Museu do Louvre e Champs-Élysée, não estamos mais em 2011. As imagens são de hoje, assim como os cafés, os pedestres e carros. A música, porém, é o standard Let’s Do It (Let’s Fall in Love), de 1928, que descobriremos ser a canção-tema do longa. Sutilmente, a atmosfera de Meia Noite em Paris é colocada: dali em diante o romantismo será o principal filtro na apreciação do filme.

O grande romântico do filme é Gil (Owen Wilson, que incrivelmente está muito bem no papel), um roteirista cansado de Hollywood que tenta convencer a si próprio que poderá se tornar um grande escritor. Ele faz de Paris o cenário ideal para suas férias intelectuais e sentir em qual momento real está a relação com a noiva Ignez (Rachel McAdams).

Gil está neste século por acidente. Seu tempo perfeito é os anos 20, de preferência numa Paris chuvosa acompanhada das canções de Cole Porter e tendo um Hemingway ou F. Scott Fitzgerald para inspirar a imaginação. Fazer compras, voltar abarrotado de sacolas, andar de táxi, gastar dinheiro em restaurantes sofisticados e outras futilidades não o comovem. As calçadas foram feitas para serem ocupadas por pessoas: para ele, a cidade é uma grande e belíssima companheira que abre os braços e o convida sensualmente a conhecê-la. A Paris do filme é tão viva quanto a Barcelona de Vicky Cristina Barcelona, com um senão: na visão do cineasta, a capital francesa conclama o amor, enquanto a urbe catalã urge pelo desejo.

Gil é um homem deslocado. A solução, porém, é encontrar sua turma. E ele o faz, gesto que dá a Meia Noite em Paris uma aura mágica, inspiradora. Por não ser ultrarromântico, Woody Allen anda entre a idealização e a maturidade com o passado, fazendo uma interessante colocação: aos olhos de hoje, o ontem sempre vai parecer mais interessante.

Por isso que seu 41º longa-metragem para cinema é mais uma homenagem a um tempo do que sua representação saudosista. No começo, dizemos quase automaticamente que aqueles, sim, são grandes tempos. Mais para frente, a segurança se dissipa: é mesmo a grande época? Dá para sentir, até, uma certa frustração por não se ter nascido antes – e cada um tem seu momento preferido do ontem. O jeito é lidar com o presente e trazer do passado o que interessa para que criemos hiatos de felicidade no hoje.


Equilíbrio

O cômico de Meia Noite em Paris vem do insólito, não de uma piada escrita deliberadamente para criar o riso. Já o drama nasce das reflexões nas quais o protagonista mergulha a cada vez que recorre a seus mestres literários. Há um equilíbrio preciso entre os dois gêneros.

E o melhor: desta vez não há o narrador (Ok, em Vicky Cristina Barcelona caiu bem) para amarrar a história. Gil é um personagem suficientemente forte e interessante para ter um mundo habitando à sua volta. De certa maneira, o filme retoma um assunto importante na obra de Woody Allen: o medo do fracasso.

Esta paúra que fez com que Roy (Josh Brolin) tomasse uma atitude desesperada e covarde em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, desta vez leva a uma direção oposta, à esperança. Por isso a força também de Gabrielle (Léa Seydoux), uma personagem que aparece em apenas duas sequências: ela não é apenas a vendedora de antiguidades, mas a porta para um outro mundo de possibilidades no presente.

Um último comentário sobre o elenco vai para dois atores. O primeiro, nem sempre lembrado por grandes papeis, Owen Wilson: até sua pronúncia tão particular e o tempo de fala pausado se encaixa perfeitamente neste americano na contramão buscando encontrar uma Paris de um tempo que se foi. O segundo comentário é sobre Marion Contillard, de fundamental personagem no filme: há tempos não a víamos tão encantadora e sedutora. Provavelmente, desde Inimigos Públicos.

Há ainda mais a dizer sobre Meia Noite em Paris, mas é melhor não estragar a surpresa. Simplesmente um Woody Allen em grande forma. Aos 75 anos. Pode não ser o melhor de sua fase europeia, inaugurada em Match Point – Ponto Final, mas esbanja um contagiante encanto.

“MEIA NOITE EM PARIS”
“Midnight in Paris”
Estados Unidos, Inglaterra / 2011/ 100 minutos / cor / 35mm
Gênero – Comédia
Direção – Woody Allen
Elenco - Kurt Fuller, Owen Wilson, Marion Cotillard, Michael Sheen, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Rachel McAdams, Gad Elmaleh, Carla Bruni, Nina Arianda, Mimi Kennedy, Corey Stoll, Manu Payet

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